azulejos (parte 2)

portugal by edward bawden
Vista de Lisboa por Edward Bawden, Motif 9 (Linocuts of Portugal), 1962.

O cartaz que fiz há poucos dias transformou-se numa espécie de meme e ganhou vida própria, no facebook, instagram e em vários sites. Foi uma boa surpresa perceber que está a abrir os olhos a muita gente, mas foi uma surpresa ainda maior receber algum hate mail e comentários indignados de antiquários que vêem na mensagem um ataque à  sua profissão, por isso achei melhor esclarecer alguns pontos (e relembro que comentários anónimos não serão publicados):
Quero sobretudo que se entenda que esta mensagem não diz nem pretende que se subentenda que toda a venda de azulejos antigos (seja por antiquários ou feirantes) é ilegal. O que defendo há anos (e reforço o paralelismo que fiz com a venda de marfim no post anterior) é que o comércio de azulejos antigos, por muito legal que seja, estimula a pilhagem sistemática e continuada das nossas fachadas, à  qual assistimos passivamente. Não acho que o problema se resolva com uma proibição (já se sabe no que é que isso dá), mas acredito que chamar a atenção para o problema, sobretudo a atenção de quem vem de fora, é essencial.
Para quem coloca a ênfase toda na questão da legalidade ou ilegalidade da venda, deixo um exemplo chocante: o proprietário de um edifício cuja fachada é revestida a azulejo pode* substituir todos os azulejos antigos** por azulejos modernos e vender os antigos como e a quem bem lhe apetecer. É perfeitamente legal e acontece. Mas é defensável? Devia ser permitido? Acontecia se não houvesse ninguém interessado em comprar? No bairro em que cresci vi acontecer em vários prédios.
Honestamente, o que me interessa não é tanto saber se foram vendidos por um antiquário idóneo, um bandido altamente especializado ou alguém que precisa de assegurar a próxima dose. O problema está em terem sido tirados de onde estavam por haver gente disposta a comprá-los.
*em Lisboa não pode, mas só desde 2013.
**a não ser que estejam classificados.

Comments

3 responses to “azulejos (parte 2)”

  1. Paulo Ferrero Avatar

    * Ai pode, pode, cara Rosa, veja-se o caso da iniciativa em 2013 do restaurante Solar dos Presuntos, embora não tenha vendido os antigos a ninguém, apenas os … escavacou.

  2. Yukimi Yano Avatar

    Hello Rosa,
    Please write this report in English.
    Many foreign tourists buy it.
    I would like to introduce this report in my Facebook,etc.

  3. filosofaresidente Avatar

    Acho que depende dos prédios. Mandamos restaurar o prédio onde vivo à  pouco tempo e foi-nos exigido colocar-mos azulejos iguais aos antigos para os sítios onde faltamos. Mandamos fazer réplicas, ficou lindo o prédio. Mas pelo que percebi, essas exigências têm a ver com a classificação dos prédios. De qualquer forma é lamentável que se ande a tirar azulejos para venda, quando dá perfeitamente para mandar reproduzir. Não é necessário destruir património.

Leave a Reply to Paulo Ferrero Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.