Começámos há três anos com um jasmim oferecido pela Páscoa e dois pés de alecrim trazidos de mão amiga no Alentejo. Um ano depois tínhamos feito acontecer uma horta e comíamos os primeiros ovos caseiros. Mas nunca me ocorreu que poderíamos vir – no centro de Lisboa – a ser adoptados por um enxame de abelhas. Quem sabe se nos escolheram porque lhes cheirou a alecrim e a terra sem venenos nem adubos ou se o enxame estava só tão cansado (de onde teria vindo?) que calhou pousar na “nossa” figueira?
Enquanto as batedoras, baralhadas, entravam pelas janelas do prédio e assustavam os vizinhos, começámos a dar voltas à cabeça para encontrar alguma coisa que pudesse ser rapidamente transformada numa colmeia apetecível. Depois de algumas pesquisas rápidas no telefone (de que tamanho tem de ser a caixa? o que pôr lá dentro para as convencer a ficar? é perigoso fazer isto sem perceber de abelhas?) e um telefonema para a pessoa que conhecemos que mais sabe do assunto, arriscámos. Escolhemos uma caixa de madeira grande e cilíndrica na qual abrimos uma entrada estreitinha e pusemos uma vela de cera pura de abelha, vestimos só porque sim umas gabardinas e ao fim de uns minutos tínhamos uma colmeia algo ridícula com um enxame aparentemente instalado lá dentro.
Depois de cair a noite levámos com cuidado as nossas novas vizinhas para o fundo do quintal e virámos a entrada da sua nova casa para nascente, como é suposto. Na manhã seguinte, mal os primeiros raios de sol começaram a aquecê-la, deram início à sua rotina de abelhas. Pergunto-me se vão procurar flores ao Jardim Botânico ou a Monsanto e se vão manter-se por aqui muito tempo ou procurar instalações de melhor qualidade. Para já parecem satisfeitas.
Ilustração de A Abelha Mestra, de Esther Lemos e Iliane Roels. Lisboa, Verbo (colecção Animais em Família), s. d.
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