Sabia que os pastores iam ficar um mês e meio a dormir na Serra, mudando de lugar a cada duas ou três semanas, mas não sabia como. Já víramos a minúscula choupana, a que na brincadeira chamam a cabana do amor, tínhamos ouvido falar do frio e do mau tempo (difíceis de imaginar numa tarde de calor como a do dia da subida) mas o que vimos surpreendeu-me. Encontrámos um enorme penedo transformado em casa. Não foi ideia dos três homens que lá estão agora usarem-no: é já conhecido dos mais velhos e julgo que ocupado todos os anos. Cada reentrância, cada encontro entre o penedo e as pedras que o rodeiam se transformam nestes dias em arrumação, em cozinha, em suporte dois em um para a antena do rádio e para o espelho que usam para fazer a barba, elemento mais surrealista de toda a instalação. Num estreito vão entre o penedo e o chão ouvi dizer que dormiram uma vez quatro homens para se abrigarem do frio. No curso de água gelado que corre ao lado lavam a louça e demolham o bacalhau que, garantem, fica só espinha se o deixarem mais do que umas horas. Para os banhos ocasionais deixam água em alguidares ao sol, mas pouco aquece. Há uma tenda de campismo que mal se aguenta contra a força do vento e um tractor novo para levar a choupana quando mudarem de poiso.
A louça junto ao curso de água.
O abrigo para a chibinha que ainda não pode ir com as outras pastar para longe.
Pinhas para fazer o lume (não há pinheiros nem outras árvores por perto).
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