Profissão: ______________
Hesito sempre antes de preencher o espaço em branco. Mãe blogger que tem uma loja e um interesse por ovelhas difícil de explicar em geral não cabe nem serve, mas está próximo da realidade. Não sou artesã, não estudei para designer e não cheguei bem a ser historiadora nem ilustradora, pelo menos nas formas mais convencionais.
Nos anos mais recentes a investigação e o trabalho de campo passaram a ocupar uma boa parte do meu tempo. Daí nasceram, entre outras coisas, o livro Malhas Portuguesas (Março de 2013), sobre a história e a prática tradicional do tricot em Portugal, e o projecto Lã em Tempo Real (em 2011, com o Tiago Pereira), um documentário aberto e em fascículos sobre o ciclo artesanal da lã.
Os bonecos
Comecei a fazê-los no início de 2004, menos de um ano depois do nascimento da minha filha mais velha. Desde que me lembro que gosto de coser, tricotar, bordar e tecer e, com um bebé, a vontade de o fazer redobrou. Partilhei no meu blog o primeiro boneco, e o segundo, e o terceiro, e recebi emails e comentários de incentivo que, bem vistas as coisas, mudaram o rumo da minha vida. Depois de ter enviado pelo correio cerca de cem bonecos percebi que precisava de mais um par de mãos, e depois de ainda mais um. Encontrá-los não foi fácil, mas tive a sorte de contar com a ajuda da Zorica Protic e da Sandra Coelho, com quem partilho a obsessão do acabamento perfeito. Os bonecos cruzaram oceanos e apareceram em revistas mas, mais importante do que isso, andam (ainda hoje) ao colo de muitos meninos e meninas. Chegámos ao milésimo boneco, a Retrosaria começou a focar-se sobretudo na lã e o tempo para fazer bonecos deixou de existir, mas não desisti de os trazer de volta um destes dias.
Os slings (porta-bebés)
Nasceram com a minha filha mais nova quando, depois de algumas semanas a usar um emprestado, percebi que me eram imprescindíveis. Fiz um e depois outro e em pouco tempo estava a receber encomendas. Fiquei rapidamente adepta do babywearing e criei a pequena Amélia sem carrinho de bebé e sem cólicas. A admiração por esta maneira tão simples de trazer os bebés contentes fez-me pesquisar as maneiras tradicionais de transportar os bebés em Portugal. E percebi que afinal o babywearing era até há bem pouco tempo prática comum em muitas das nossas aldeias.
As outras coisas
Quando a procura e a escolha dos tecidos perfeitos começaram a ocupar boa parte do meu tempo de trabalho os bonecos tornaram-se demasiado pequenos para todas as experiências que me apetecia fazer. Por isso foram aparecendo mantas, sacos, taleigos e muitas outras coisas que, quando vão para a loja, aparecem arrumadas aqui. Em muitas delas tenho usado (e divulgado) os padrões das tradicionais chitas portuguesas e, por outro lado, os tecidos das (suas primas) capulanas africanas cujos padrões são muitas vezes inesperados e sempre surpreendentes.
A Retrosaria
Principiou por ser um site criado para vender tecidos dos que era impossível encontrar por cá. Estávamos em Janeiro de 2008 e tudo se passava a partir de casa. Mas a Retrosaria cresceu e ganhou vida própria e, nos finais do ano seguinte, instalou-se numa antiga fábrica de manequins entre o Chiado e a Bica, onde esteve até 2021. Nesse ano mudámo-nos para um espaço maior com porta para a rua, entre o Intendente e os Anjos. É lá que ensino a fiar e a fazer malha sempre que posso. E é lá que se vendem os meus fios de lã de ovelhas de raças portuguesas para além de muitas outras coisas.
Investigação e formação
Actualmente muito do meu tempo é passado fora de Lisboa, em trabalho de campo. Faço investigação na área das artes e ofícios tradicionais, centrando-me sobretudo na área dos têxteis e dos lanifícios de produção artesanal, colaborando sempre que posso com associações locais e outras entidades na promoção destas temáticas.