Muitas vezes parece que o país que está mais perto de nós é o que conhecemos pior. Anos depois de ter começado a juntar retalhos de tecido e de ter começado a interessar-me pelo pouco patchwork antigo português que se vai encontrando (na maior parte das vezes em forma de saco), décadas depois do tempo em que vivi no meio de peças feitas pela dupla de artistas portuguesas que mais seriamente se dedicou ao tema, descubro agora que muito mais natural do que dizer patchwork seria (à falta de uma portuguesa) usarmos a palavra espanhola almazuelas. Aqui mesmo ao lado, do outro lado da península na região de La Rioja, as almazuelas são uma tradição rural com séculos de existência, que esteve à beira de desaparecer sem deixar rasto e foi recuperada há poucas décadas graças ao esforço de uma mulher que quero muito conhecer: Lola Barasoain. A tipologia das almazuelas parece corresponder em grande parte à quilo que nos EUA se chama log cabin, um motivo que se constrói cosendo tiras sucessivas em volta de um quadrado inicial e que pode produzir efeitos tão distintos quanto este e este. Este motivo é também o que mais frequentemente aparece nas mantas de retalhos portuguesas. Numa entrevista do jornal La Vanguardia em 1980, Lola Barasoain descreve assim o início da sua obra:
A partir de 1971, mi trabajo se ha desarrollado en. una población de nueve vecinos, Trevijano de Cameros, con mala luz, sin agua corriente y sin carretera en aque llas fechas. Después de grandes diflcultades económicas, pero con gran ilusión por parte de un grupo de jóvenes que allí nos instalamos, hemos conseguido el agua corriente y la carretera. Mi interés y mi dedicación se centró en el estudio y recuperación de antiguos materiales textiles, que en principio comencé a admirar, después a analizar y posteriormente a reproducir ayudada por algunas personas de edad que conocieron su proceso de fabricación en sus aà±os mozos. Descubrir las ”almazuelas” debajo de los colchones o sirviendo de manta de aparejo en las caballerías y, debido a su interés y belleza, situarlas en su antigua dedicación de cubrecamas, tapetes, paà±os de arca, etcétera, ha sido parte de mi misión. La segunda etapa fue encontrar personas que recordaran y practicaran la antigua técnica de la ”alma zuela”. Y así, el amor de la lumbre como en los viejos tiempos de los ”trasnochos” o reuniones nocturnas de varios vecinos, fui elaborando este mi trabajo…
Ao contrário do que pareceria natural, não há muitas imagens de almazuelas antigas disponíveis online. Os trabalhos que se vêem mais são visivelmente influenciados por modelos norte-americanos bastante desinteressantes e o uso de tecidos aproveitados parece ter caído totalmente em desuso, numa demonstração de que se a necessidade aguça o engenho o oposto também é verdade. Encontrei no entanto este mini documentário, que vale mesmo a pena ver:
Nota: Todas as imagens deste post são pormenores de fotografias de A. Lopez Oses que ilustram o artigo citado.
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