Viana do Castelo. Fato à lavradeira.*
Em Viana do Castelo, capital do folclore, as cores vivas dos trajes saltam de quase todas as montras e perde-se a conta à s lojas de artesanato (leia-se souvenirs), mas não há uma que recomendasse sem hesitar a um visitante desprevenido. A minha preferida vende, no meio de muitas outras coisas, peças de museu a preços tentadores: saias antigas tecidas em casa, lenços cache-nez que há muito não se fabricam, algibeiras e outras relíquias a cheirar a campo e a bafio. A outra de que gosto este ano estava fechada (acho que só para férias). Nestas e nas outras, o que abunda é industrial e desinteressante. Dou por mim quase com o discurso reaccionário deste livro, onde página após página se lamenta o fim dos serões passados à lareira com as ingénuas e genuínas raparigas do campo a tecer e bordar pacientemente os seus enxovais, e se descreve, já nos anos sessenta, a fraca qualidade do artesanato à venda nas lojas. A atitude não podia ser mais diferente da minha mas, por outro lado, custa-me ver morrer as últimas avós que nasceram num mundo diferente e, com elas, a memória e os saberes desse mundo. Há peças bem recuperadas, mas são a excepção. As poucas tentativas de integrar motivos tradicionais em peças de uso moderno que encontrei pareceram-me feitas com pouco gosto e menos qualidade. E no entanto há tanta coisa que se podia fazer…
PS: Não encontrei esta loja, e parece-me que foi uma pena. Gostava de ter visto de perto as rodilhas e o resto.
* Fotografia retirada de Traje Popular, catálogo da exposição realizada pelo Museu de Etnologia no Museu Nacional do Traje em 1977.
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