Tem 6 casas onde tecem mantas de retalhos, urdidas com lã e tecidas com retalhos que juntam pela cidade e por casas dos alfaiates. Em cada casa, três, quatro teares.
João Brandão (de Buarcos), Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552.
Uma prática com certamente muito mais de quinhentos anos de história, a de fazer mantas de retalhos, ou trapo, ou tirelas, ou fitas, como lhes chamam na Aldeia das Dez, na Serra do Açor, onde fomos conhecer o tecelão, poeta e escultor Viriato Gouveia. Com oitenta e três anos que não se lhe vêem nem no rosto nem nos gestos, contou-nos histórias da carestia de linha de algodão durante a Segunda Guerra Mundial e do reflorescimento da produção de mantas a seguir a 45 e até aos anos 70, quando entraram em irreversível declínio. As mantas do Sr. Viriato, e do pai com quem aprendeu a tecer, sempre foram urdidas com linha e tapadas com fitas (tecidos rasgados à mão ou cortados com tesoura) que quem encomendava as mantas entregava ao tecelão.
Estas fitas antes de serem tecidas eram ainda torcidas na roda (caneleiro) num gesto em tudo idêntico ao usado para torcer os fios de lã. Depois vieram as fitas de fábrica (o conhecido trapilho), que só dão mantas delicadas quando são cortadas a meio para ficarem mais finas. É com elas que o Sr. Viriato faz as mantas mais bonitas, por prazer porque diz que dão trabalho a mais para serem vendidas, com padrões e combinações de cores hoje em dia raramente vistos.
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