Por volta dos dezanove anos deixei de comer carne e peixe. Durante vários anos não lhes toquei de todo e nunca voltei a ser verdadeiramente omnívora. Hoje em dia como bacalhau no Natal e pouco mais. Não é um sacrifício, é um hábito que se instalou há muitos anos e que sempre achei fazer sentido. Nunca pensei em prescindir dos lacticínios nem dos ovos, apesar de ser cada vez mais atenta à origem e qualidade dos que compro. Também nunca fui fã de soja nem deixei de usar sapatos em couro, e uma matança do porco faz-me – por várias razões – muito menos impressão do que a secção da carne do supermercado. Sou uma vegetariana atípica, porque se tivesse de escolher entre a galinha do galinheiro de um amigo e uma embalagem de salsichas vegetarianas fabricadas num país longínquo preferia comer a galinha: pelo menos era de mais perto, não tinha sido fabricada com muitos ingredientes estranhos (entre os quais soja plantada sabe-se lá onde) nem vinha numa embalagem de plástico.
Todos os dias fazemos escolhas e uma coisa em que insisto cada vez mais é que é ao gastarmos dinheiro que tomamos as decisões com efeito mais imediato sobre o mundo à nossa volta.
Há muitas áreas em que continuo à procura de soluções – quando não sei o que comprar (por exemplo, porque é que não há uma marca em Portugal a fazer calças de ganga decentes?) sei que ser frugal e comprar o mínimo também faz parte das minhas opções.
Isto para dizer que Sábado passado fui ver o documentário Cowspiracy e que o recomendo vivamente. Não acredito que o mundo caminhe para o veganismo (aliás sabe-se que caminha no sentido contrário), mas acho que ainda no nosso tempo de vida (tal como aprendemos a separar o lixo ou a fechar a torneira enquanto lavamos os dentes) vai ser do senso comum consumir bichos com muita, muita moderação.
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7 responses to “cowspiracy”
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Sim, claramente. Sempre me pareceu uma evidência a necessidade de consumir bichos com moderação. A certa altura tive a ideia de comer apenas animais mortos por mim, ou mandados matar por mim, já que sou incapaz de tal coisa (em miúda estava proibida de assistir à decapitação de galinhas, pauladas em coelhos e matanças de porcos, porque não deixava os animais morrer, por sentir pena deles).
Passei pela fase de não comer bichos por uma questão ética, depois de ler Peter Singer, mas durou pouco mais de dois anos.
Enfim, é mesmo uma questão de bom senso, como dizes. Gostava de ver o documentário, não sei se vai voltar a estar disponível.P.S a Salsa não faz calças de ganga decentes?
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Carla, isso da decência das calças é muito subjectivo. Na Salsa e na Tiffosi nunca encontrei nada de que gostasse, mas estávamos a comentar o tema ali do outro lado e falaram-me de outra marca, vou indagar e depois apresento o relatório.
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Há muitos anos que deixei a carne de vaca de lado (e logo a seguir a de porco), por questões de saúde principalmente, na altura andei a ler umas coisas em que já se falava que estes animais prejudicavam o ambiente, mas não poderia dar esta razão quando me perguntavam o porquê de não consumir carne de vaca e não passava da primeira razão para não ter de ouvir que isso eram tretas.
A verdade é que não custa nada deixar de as comer, o corpo habitua-se tão bem (e agradece) que lá mais para a frente não nos vai apetecer mais, nem sequer para petiscar para matar saudades.
Em relação à carne, voltei a comer apenas frango e perú em casa por questões de comodidade e tempo, para não ter de confecionar pratos diferentes todos os dias só para uma refeição, mas variamos facilmente entre o peixe e pratos vegetarianos, cada dia ao gosto de cada um.
Tenho vontade em ver o documentário. -
andava com essa questão aqui engasgada…acho que ser atípica é mais compatível comigo também!
obrigada! -
so para informar: há uma marca portuguesa de calças de Ganga, que , na minha opinião, são bastante decentes: SALSA
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Boa noite,
Muitos parabéns pelo seu trabalho, que tenho vindo a acompanhar desde há algum tempo e que muito admiro. Concordo com quase tudo o que escreveu, eu própria deixei de comer carne há 6 anos (embora continue a comer peixe de vez em quando), e sinto-me muito saudável e confortável com esta opção. Cresci numa aldeia e assisti a muitas matanças de animais, entre elas a do porco e apesar de se viver um clima de alegria e festa, aquele momento era para mim muito doloroso. Além disso, agora na fase adulta da minha vida, o que vejo no mundo rural em que continuo a viver, é que os maus tratos aos animais domésticos persistem. Um porco não sai do seu curral escuro, mal cheiroso e minúsculo durante a sua vida toda. Provavelmente tratam-nos desta forma para que o momento da morte de um animal que andaram a alimentar e a “cuidar” durante tanto tempo seja mais suportável.
Quanto à s calças de ganga: se a questão estética é subjectiva, a qualidade e durabilidade são quantificáveis. Nenhuma dessas marcas dura muito tempo. Tenho muitas calças remendadas e não me importo, mas com essas marcas é demais. -
Cresci no campo: os meus avós criavam vários animais (agora criam menos) e os vizinhos criavam outros. Fui deixando de comer aqueles aos quais me afeiçoava (coelhos quando tinha 6 anos, porco por volta dos 10) mas só quando vim para Lisboa e fui confrontada com carne de uma proveniência desconhecida comecei realmente a pensar na questão. Primeiro deixei de comer apenas carne. Deixar de comer peixe veio um pouco mais tarde (a pesca não pareça menos cruel do que uma matança de porco tradicional a quem já reflectiu sobre aquela sensação de falta de ar quando estamos a nadar debaixo de água).
Não sou de todo uma “evangelista do vegetarianismo” (não me custa estar à mesa com omnívoros, ainda que, confesso, me faça muita confusão que, por exemplo, pessoas que podem pagar ovos provenientes de galinhas criadas em liberdade não o façam) mas costumo recomendar a leitura de “Eating Animals” de Jonathan Safran Foer, que talvez a Rosa já conheça. Se não conhecer, vale muito a pena.(E aguardo com expectativa um “relatório” sobre calças de ganga made in Portugal com bom corte e qualidade.)
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