Nas aldeias junto a Miranda do Douro tecem-se mantas diferentes das que conheço das outras regiões do país. São urdidas com linho (agora algodão) e tapadas com lã fiada relativamente grossa e torcida num fio de dois cabos (de torção “S”). O desenho é criado através da técnica dos puxados, que se encontra em várias regiões (por exemplo no Montemuro), mas aqui toda a superfície é coberta de puxados, que são no fim do trabalho abertos com uma tesoura. O resultado é uma manta com muitos quilos de lã (julgo que entre dez e vinte) e tão densa e espessa que aos nossos olhos parece um tapete de luxo. Uma manta larga é composta por três peças tecidas individualmente (os teares domésticos são estreitos) e cosidas no fim umas à s outras, por vezes rodeadas ainda de uma franja feita também em casa (o tear de franjas vê-se à direita na imagem de cima) e na mesma lã.
Tear com cobertores antigos em cima.
Amostra de manta, com puxados abertos e outros ainda por abrir.
Tapete de crivo, em lã não tingida.
Os desenhos destas mantas variam. Umas incorporam desenhos modernos adaptados de revistas, outras repetem peças antigas só de memória. Alguns destes desenhos criam padrões geométricos (mais simples de fazer) e outros exigem mais mestria, como os de ramagens.
Manta terminada, tecida apenas com lã não tingida.
Avesso, com seis passagens de linha entre cada passagem de lã.
Estas soberbas mantas não são a única coisa que as tecedeiras como a Ti Paula criam no tear. De lã eram também feitos os cobertores de estambre, tecidos numa peça única num tear mais largo que existia na localidade, muito leves por serem urdidos e tapados com este fio fino. Eram muito pouco batidos no tear e seguiam depois para um pisão existente noutra localidade. Aqui como noutras regiões não eram as tecedeiras que levavam os cobertores ao pisão (aliás a Ti Paula nunca viu o pisão onde os seus cobertores foram pisoados). Cada tecedeira marcava as suas peças e elas eram entregues a alguém que as levava e devolvia depois de prontas.
Cobertor de estambre apisoado.
Por todas as casas se vêem belíssimos sacos do trigo, urdidos com linho e tapados com lã ou urdidos e tapados com linho. Caíram em desuso, o linho deixou totalmente de se cultivar, e acontece encontrá-los a fazer de tapete para limpar os pés. Os mais usados perderam a cor do lado de fora, mas por dentro ainda conservam os laranjas, vermelhos e verdes, que parecem ser as cores mais usadas.
Saco do trigo antigo, em linho.
Também há alforjas (alforges) de levar ao ombro ou em cima do burro (para outro post), tapetes e mantas de ramos abertos (com a técnica mais conhecida dos puxados), em que muitas vezes se aproveita a lã colorida de camisolas velhas em contraste com o tom claro da linha e lindíssimas mantas de trapo feitas com roupa velha cortada em tiras (como pelo país fora nos sítios em que ainda não foram substituídas pelas do grosseiro trapilho industrial).
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