b.o. means body odor

diariofranzi.jpg

repesco memórias esquecidas numa zip (foi dura a chegada a JC):

¶ o maior choque foi mesmo a chegada. não ao aeroporto, onde fui seleccionada

para um luggage check que me deixou estupidamente nervosa, nem mesmo com a

dificuldade do taxista (um negro enorme e gordíssimo, igual a tantos outros

que por aqui vivem) em encontrar o meu destino, e isto apesar do bendito mapa

que me lembrei de imprimir em casa com todas as indicações de auto-estradas,

estradas, ruas e ruelas para aqui chegar. foi mesmo com o “quarto”, que afinal

é uma casa. um apartamento, entre milhares de outros apartamentos divididos

por dois sky-scrapers de tijolo vermelho chamados James Madison e Thomas

Jefferson. uma cozinha, com frigorífico e fogão e mais nada (nada!, nem um

garfo nem um copo nem uma vassoura para amostra), uma sala (mesa e espécie de

maple imprestável de tão partido), três quartos bastante idênticos e sem luz

(cama de solteiro, secretária mínima e cadeira, mais cómoda de gavetas

partidas e roupeiro sem cabides) e duas casas de banho (uma com banheira sem

chuveiro e outra ao contrário).

quem me conduziu a tão desolados aposentos foi um americano, o RA (resident

assistant) de serviço. um inexpressivo chris de boné e barbicha (19-25 anos),

que me disse depois de alguma insistência como chegar daqui à  cidade

propriamente dita e voltar, ao supermercado e ao centro comercial (onde ainda

não fui). informações sobre a localização do curso (a school of visual arts

tem uma meia dúzia de edifícios, não muito próximos uns dos outros) ou sobre

os meus eventuais colegas não tinha, mas prometeu investigar.

depois de um primeiro ataque de pânico, combatido com uma collect call, uma

investida ao supermercado (papel higiénico, maçãs e iogurte) e um duche

resolvi bater à  porta deste mesmo chris (que mora um andar acima) para lhe

pedir que me deixasse ver o email no computador dele, visto não haver nenhum

outro meio de o fazer deste lado do hudson. passámos por três couch potatoes

cujos nomes não recordo (“we mostly sit around at home and do nothing, when

we’re not at work”) e instalei-me em frente a um monitor a dizer AOL (bendita

tecnologia) durante uns dez minutos.

Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.