Para muitas pessoas da minha idade o Museu de Arte Popular já é só aquele edifício abandonado em Belém com uns curiosos bois à porta. Outros lembram-se de lá ir em visita de estudo ou de passear pelo vizinho Mercado do Povo.
Mesmo entre quem trabalha na área do design e dos novos artesanatos, pouca gente conhece a história única deste museu, e só por isso se justifica que não se ouçam já mais vozes em desacordo com a decisão governamental (já tomada e destomada várias vezes) de instalar no edifício do Museu de Arte Popular um suposto Museu da Língua Portuguesa.
Não vou alongar-me muito sobre o porquê de esta decisão ser absurda porque outros já o fizeram muito melhor do que eu conseguiria. Recomendo a quem queira informar-se um pouco estes textos da Prof. Raquel Henriques da Silva e este outro da Sara Figueiredo Costa. Pelo meu lado, pego na razão mais óbvia: Lisboa tem de ter um museu digno onde famílias, alunos, investigadores e turistas possam conhecer a arte popular portuguesa, sem que a obsessão com o politicamente correcto acabe por funcionar como um perverso mecanismo de censura. Neste momento, e de há muito tempo para cá, isso é totalmente impossível: no Museu do Traje os únicos trajes populares à vista são as miniaturas vestidas numa pequena colecção de bonecas dos anos 40. O Museu Nacional de Arqueologia guarda o espólio etnográfico recolhido por José Leite de Vasconcelos bem longe do olhar dos visitantes. Finalmente, no Museu Nacional de Etnologia que para além do seu próprio espólio esconde as colecções pertencentes ao Museu de Arte Popular, as Galerias da Vida Rural não têm sequer um horário normal de abertura ao público. A MatrizPix dá-nos apenas um vislumbre do que deveríamos ter direito a ver exposto.
Não é por acaso que quem, como eu, se começa a interessar por exemplo pelas tradições têxteis, dá por si a passar horas a fio nos sites de museus estrangeiros, e a tricotar meias Turcas em vez de meias da Serra d’Ossa (estas últimas condenadas a desaparecer em breve). Também não é por acaso que os designers ou empresários que querem integrar motivos populares no seu trabalho irremediavelmente acabam por pegar no galo de Barcelos ou nos lenços de namorados. É que por cá não há grande hipótese de terem visto outras coisas.
Está planeado para amanhã um acontecimento em defesa do Museu de Arte Popular. Mais detalhes já já a seguir.
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