São elas as grandes protagonistas da viagem. Sobe-se a montanha porque as pastagens das zonas mais baixas já não têm alimento que chegue, e porque estes animais continuam a comer pasto e não ração. Se alguns pastores (que aqui quer dizer proprietários de ovelhas) alugam no verão pastagens próximas para as duas chegadelas (refeições) diárias do seu rebanho, outros mantêm o hábito ancestral de o levar para outras paragens, ou de o entregar a quem o leve, pagando uma quantia certa por cabeça. O rebanho que acompanhámos era composto por vários rebanhos de média dimensão pertencentes a outros tantos pastores. Na liderança seguia o maioral (pastor responsável por toda a operação), acompanhado pelos pastores mais velhos, e atrás os mais novos e os empregados (pastores sem rebanho). Cada animal traz nas costas a marca do seu dono, o que permitirá apartá-lo depois do regresso e, ao pescoço, a sonora loiça que nesta ocasião especial é maior do que a usada habitualmente. Os chocalhos maiores, mesmo novos, valem várias centenas de euros e vêm actualmente do Alentejo, onde continuam a ser feitos individualmente, à mão.
No rebanho há alguns carneiros, cabras e bodes, mas são as ovelhas que estão em larga maioria. Percorrer quilómetros de serra junto delas, por vezes no meio delas, sentindo-lhes as cabeças sempre baixas a empurrar-nos mansamente as pernas, abrir-lhes caminho por entre as giestas mais serradas, fazer literalmente parte do rebanho é uma experiência extraordinária. É fácil dizer que se preferem as cabras, enérgicas e fotogénicas, mas há qualquer coisa especial nestes bichos dóceis, e não é só a lã. Diz quem não as conhece que são burras, diz o pastor que em certas atitudes que tomam mostram mais raciocínio que muita gente.
A subida cansa os animais como a gente, e perto do fim já são notórias a sua expressão exausta, a sede e a fome que as ervas do caminho não saciaram. A recompensa é a chegada ao ponto planeado para o descanso da tarde, onde há água e alimento com fartura. Os cães entram no rio para refrescar e a gente deita-se à sombra das árvores. Como nas histórias.
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