De casa da tecedeira segui para casa da D. Isabel, escrinheira e fiandeira. Na noite anterior percorrêramos a aldeia a pé. Vimos as estrelas, as vacas a dormir, ouvimos os mochos e as cigarras, admirámos as casas de pedra silenciosas. Nem com muito optimismo conseguiria ter imaginado o estendal de lã que vi pela manhã. Aqui os teares emudecem (mas houvesse encomendas e acredito que voltassem a tecer) mas ainda se fia. A nossa sala de estar é aqui, disse a D. Maria da Cruz apontando para um banco de pedra no largo. E de Inverno estamos aqui, num outro mais abrigado. Se tivesse vindo ontem já nos conhecia todas, dantes fiava-se aqui muito. Hoje temos uma missa e um convívio, mas venha amanhã que lhe mostro o que quer ver.
A lã é lustrosa e muito limpa. Já foi lavada (deito-lhe um bocadinho do sabão da louça, disse a D. Isabel) e, aqui como em Mértola, é determinante a escolha da matéria-prima logo na origem. Vem de um rebanho premiado de ovelhas da raça mirandesa e só se aproveitam as melhores partes do beldre (velo). As tchocas (são as cagaitas do Alentejo, as zonas sujas com fezes do animal) e a lã mais suja são retiradas antes da lavagem.
Toda a lã é fiada à mão, apesar de em muitas casas existirem magníficas rodas de fiar, semelhantes à da D. Vitorina mas ainda maiores. Só que aqui chamam-se tornos (este já era dos bisavós da D. Isabel) e são usados apenas para torcer a lã.
O rodilheiro (caneleiro), que descansa junto à s batatas e maçãs, onde se enchem as canelas para o tear, também pode ser usado para torcer a lã, aliás o mecanismo é o mesmo da roda de fiar. Trouxe comigo três sacos cheios de novelos de lã. Uma mais escura, outra de uma ovelha malhada que deu um cinzento mesclado fora de série, e outra branca. Vou fazer um casaco para o Inverno. E já encomendei mais uns quilos à D. Isabel para a Retrosaria.
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