Category: Cultura popular

  • pêras e cabeçadas

    Em véspera de partida para férias, o trabalho não permitiu que acompanhasse a descida da Serra, adiantada pelo mau tempo em relação ao previsto, mas cheguei a tempo da última caminhada e do convívio. Com as férias regressaram à  terra vários ex-pastores e ex-futuros pastores que a vida levou a outros países. Também eles desceram […]

  • convívio

    Ao Domingo a família sobe a serra e junta-se aos pastores. Trazem-se mantimentos, trocam-se as roupas, convive-se e conversa-se tarde fora. Há cobertores e velhas capas no chão para sentar e para tapar as crianças mais pequenas, que fazem a sesta abrigadas pelas pedras. Entregamos fotografias da subida, que nos ganham a estima das mulheres. […]

  • t ∞

    Sabia que os pastores iam ficar um mês e meio a dormir na Serra, mudando de lugar a cada duas ou três semanas, mas não sabia como. Já víramos a minúscula choupana, a que na brincadeira chamam a cabana do amor, tínhamos ouvido falar do frio e do mau tempo (difíceis de imaginar numa tarde […]

  • lá em cima

    Três semanas depois da subida, fomos ver os pastores à  hora do descanso depois de uma noite de temporal, em boa parte passada a reunir as ovelhas espantadas pelos trovões. O contraste entre a ideia de uma rotina facilitada pela existência de carros e telemóveis e a realidade do andar madrugada fora à s escuras com […]

  • tu podes, assim tu queiras

    Uma espécie de Keep calm and carry on à  portuguesa, numa pequena gravura popular encontrada hoje por acaso ao folhear mais uma vez a minha revista extinta preferida (Terra Portuguesa, dirigida por Vergílio Correia e Sebastião Pessanha nos inícios do século XX). Vou adoptar.

  • dos bodes

    Há vários meses, ao ler sobre a Serra de Montemuro, aprendi que os bodes vindos na transumância da Serra da Estrela traziam nessa ocasião os chifres enfeitados com fitas e pompons. Os que acompanhámos não levavam os enfeites, mas pelo menos um tinha os chifres cheios dos furinhos necessários para os segurar, e disse-me o […]

  • a transumância iv

    Iam vestidos a preceito, e não era por nossa causa. Só o maioral e o Pedro levavam o colete e a camisola de xadrês debruado a burel recortado, mas quase todos nos impressionaram pelo inesperado aprumo. Colete de lã feito no alfaiate (tema para outro post), chapéu de feltro (de coelho para os mais velhos, […]

  • a transumância iii

    São elas as grandes protagonistas da viagem. Sobe-se a montanha porque as pastagens das zonas mais baixas já não têm alimento que chegue, e porque estes animais continuam a comer pasto e não ração. Se alguns pastores (que aqui quer dizer proprietários de ovelhas) alugam no verão pastagens próximas para as duas chegadelas (refeições) diárias […]

  • a transumância ii

    É outro estar, em que o silêncio não cansa, viver de homens em que fomos intrusas. O convívio e a amizade que elegem como valores não traduzem o afecto entre pastores que choraram juntos de medo quando numa noite de trovoada viram os raios estilhaçar os penedos à  sua volta, que salvaram por pouco o […]

  • a transumância I

    Uma mole de homens e animais subiu a montanha em busca de alimento, como todos os anos há milhares de anos. Ovelhas, cabras, homens, cães, duas mulheres. Do nascer do sol ao meio dia, do ar imagino que parecêssemos um organismo vivo, cor de terra, esticando e engrossando consoante a largura dos caminhos, acordando o […]