fiar
Pormenor do Saltério de Luttrell, século XIV. British Library.

d. vitorina

Para além de ver lavar a lã, fui a Mértola para conhecer finalmente a mulher de cujas mãos nasce o fio usado nas mantas da Oficina de Tecelagem. A D. Vitorina aprendeu a fiar em criança mas só crescida pegou na roda, numa altura em que alguns subsídios para deslocações a feiras tornaram a actividade suficientemente lucrativa. Hoje em dia fia apenas nas horas vagas mas, por ser aparentemente a única fiandeira no activo, é dela que em grande medida depende a sobrevivência das mantas de Mértola. Quis ver a sua grande roda de fiar em pé, de que já tinha ouvido falar, em tudo idêntica à s que na Baixa Idade Média se difundiram pela Europa. Vi fiar em Peroselo e Vila Franca da Beira, e já mais ou menos me ajeito com um fuso, mas que me lembre nunca tinha visto fiar numa roda portuguesa.

pronta a fiar

Quis conhecer a D. Vitorina também para perceber o momento em que as pastas de lã saídas das cardas são moldadas de forma a poderem finalmente transformar-se em fio. Cardar era por aqui trabalho de homem, mas os cardadores extinguiram-se e agora é a fiandeira que assegura também este passo da preparação da lã. Para trabalhar bem nas cardas, azeita-se a lã que foi antes escarmeada, mas essa parte da história fica para depois.

fiar

fiar

Da roda nasce o fio singelo, que forma uma maçaroca no fuso de ferro (a única peça em metal de todo o engenho). Do fuso sai para o sarilho onde se criam as meadas, e as meadas vão à  dobadoura para fazer os novelos…

Mais imagens no set do Flickr.

cardar

pastas de lã

Comments

10 responses to “d. vitorina”

  1. alice Avatar

    Podes sempre ir à  Casa do Trabalho do Nordeste, que eles têm umas quatro rodas de fiar idênticas a essa a funcionar. :)

  2. luisa Avatar
    luisa

    Lindo. Tenho que aprender a fiar. Uma roda dessas é que não cabe cá em casa.

  3. Virgínia Avatar

    adorei, Rosa, obrigada!

  4. Paula Tadeu Avatar
    Paula Tadeu

    Até apetece ir novamente a Mérola (O que em mim é raro) Finalmente percebi o que é um sarilho! Ainda não percebi para que serve mas lá hei-de chegar.
    Mas a lã que sai dessa roda serve essencialmente para o tear não é? Para camisolas não dá. Lembro-me que é uma lã dura ou estou enganada? Mestas coisas de lãs tenho tido surpresas grandes ultimamente.

  5. mariadanazare Avatar
    mariadanazare

    Continuo maravilhada! Não percebo porque é que não se protege este nosso patrímónio, seja ele lucrativo ou não! Já que se gasta tantos fundos sem retorno, aqui (e noutras actividades similares) eram muito melhor empregues!

  6. Francesca Avatar

    what an amazing tool!

  7. […] é fiada à  mão, apesar de em muitas casas existirem magníficas rodas de fiar, semelhantes à  da D. Vitorina mas ainda maiores. Só que aqui chamam-se tornos (este já era dos bisavós da D. Isabel) e são […]

  8. […] De visita a uma das nossas grandes Senhoras da Lã, três anos depois. […]

  9. […] a Rosa Pomar já escreveu no seu blog A Ervilha cor de rosa’. Para ver o artigo, basta clicar aqui. A Rosa, que se dedica à  investigação sobre os têxteis tradicionais portugueses, tem ainda um […]

  10. […] esta não foi (felizmente) uma encomenda invulgar ou excepcional. É muito semelhante à s rodas do Baixo Alentejo e Serra Algarvia e funciona exactamente da mesma maneira, mas tem algumas diferenças: o fuso é de […]

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