Junto a Miranda do Douro, pela mão de uma bela gaiteira, cheguei a casa da Ti Paula. Com elas passei uma manhã inesquecível, enquanto a E. e a A. corriam atrás dos gatos e dos pintos. Ganhei uma mestra sem estudos (disse ela), aprendi mais sobre as malhas que lá me levaram, vi fazer um manelo a preceito e fiei na roca uns metros de lã que ainda hão de ser tecidos. O manelo é a porção de lã que se prende na roca para fiar, e foi assim que a Ti Paula o preparou:
A lã já lavada (das ovelhas da raça mirandesa, cujas fibras são muito longas) é cuidadosamente aberta à mão e arrumada num montinho em que as fibras se encontram alinhadas quase todas na mesma direcção. Esta porção de lã é enrolada rapidamente com as mãos, ficando com uma forma vagamente cilíndrica.
Desta lã começam-se a puxar suavemente as fibras, num gesto repetido e certeiro, criando um longo feixe de espessura bastante regular.
Este feixe é depois separado em porções com cerca de dois palmos de comprimento. As fibras estão agora muito alinhadas, com um aspecto penteado.
Num gesto de poucos segundos, o manelo é enrolado num cilindro, e está pronto para ir para a roca, que se prende à cintura.
A correia prende o centro do manelo ao roquil (parte bojuda da roca). Fica a roca pronta para a função.
A roca fica colocada entre o braço esquerdo e o tronco, semi-apoiada no antebraço. As fibras são puxadas e torcidas para criar uma primeira porção de fio que se possa prender ao fuso para começar a fiar. Aqui os fusos são altos e têm sempre volante (um disco encaixado junto à base da haste, como nos fusos pré-históricos), e são em geral de freixo, mas também podem ser de espinheiro ou buxo.
Com o braço esquerdo sempre por baixo do cabo da roca, começa a fazer-se a maçaroca (a porção de fio que enche o fuso), nos dois movimentos cíclicos que compõem a fiação: puxar e torcer as fibras criando o fio…
…e enrolar o fio em torno do fuso.
(Oubrigada Suzana pulo retrato!)
(Do Verão passado: fiar em Peroselo com a D. Laudecena.)
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