à  turca

turkish knitting

knitting turkey "fancy feet" "Anna Zilboorg"

Há uns meses cheguei através do Ravelry ao livro Fancy Feet: Traditional Knitting Patterns of Turkey, de Anna Zilboorg. Depois desta outra descoberta, foi o que faltava para me pôr a pensar insistentemente sobre tricot de pontos metidos (é assim que se diz em Português?), ou stranded knitting ou jacquard. Até hoje nunca tinha dominado este tipo de tricot (como se nota aqui), porque o julgava incompatível com o trabalho ao pescoço. Tricotar com a lã ao pescoço ou presa num alfinete posto ao peito é a principal (mas não a única) forma tradicional portuguesa de fazer malha. É totalmente desconhecida em boa parte do mundo e aparentemente está em extinção nos outros países que a usaram deste lado do atlântico: Grécia, Turquia, Bulgária e creio que todos os outros países mediterrânicos (de cá terá sido levada para o outro lado do mar).

Ora acontece que não só o tricot à  portuguesa não é incompatível com trabalhar com vários fios como torna o trabalho muito mais fácil. A ideia só me surgiu ao olhar para esta imagem (a senhora tem dois fios pendurados ao peito, um de cada lado): basta passar os dois fios por trás do pescoço, mas um para cada lado (ou seja, pondo um dos fios a subir pelo lado direito e a descer pelo esquerdo, prendendo-o no dedo médio da mão esquerda). Parece confuso durante uns minutos, mas foi como descobrir a pólvora.

O livro de Anna Zilboorg está esgotadíssimo, mas ao fim de uns meses de espera consegui encomendar uma cópia a um preço não muito indecente. Tem uma introdução histórica interessante, onde explica que este género de meias (pelo menos com a perfeição e complexidade dos exemplos apresentados) já praticamente não se produz na Turquia, e é uma bem sucedida tentativa de preservar e difundir o seu modo de construção e vários padrões. Tanto quanto se percebe, a informação histórica e muitos dos padrões foram retirados da obra Knitted stockings from Turkish villages, de Kenan à–zbel.

A amostra da primeira fotografia, com que estreei o livro, foi feita com a lã Kureyon Sock que, tanto pela consistência como pelas cores, me parece ideal para o efeito.


turkish knitting

turkish knitting

Knitted socks em turkishculture.org.

Turkish knitting, and a long-forgotten library book by Quenouille.

Knitting Around the World. Turkish Delight for Knitters by Donna Druchunas.

Fanatical Details on Turkish Socks.

Comments

23 responses to “à  turca”

  1. hpc Avatar

    Sempre fiz jacquard apesar de fazer tricot ao pescoço, para desgosto da minha mãe que considerava o método demasiado “velha guarda”. Faço-o pondo um dos fios ao pescoço e o outro ao peito, com alfinete. Esse truque dos fios em sentidos contrários deve ser muito bom mas será preciso perceber. Fiquei com os 2 hemisférios baralhados …

  2. Francesca Avatar

    This is all very interesting, but google automatic translation really got me lost: are you saying that you actually knit the traditional Portuguese way? Is that method still widely used in Portugal?

  3. Ana Avatar

    Fabuloso! Obrigada pela dica. Qualquer dia animo-me a experimentar.

    No Brasil também tricotam de fio ao pescoço; aqui na Argentina, não. Uma vez perguntaram-me, numa sala de espera de um médico: “ah, isso é uma nova forma de tricotar?”. Achei curioso usarem o termo “nova forma”…

    (aqui na Argentina quase não se usam agulhas circulares; com duas agulhas “normais”, entala-se uma entre o braço dominante e o tronco; a mão dominante dá as laçadas e a outra agulha é secundária.)

  4. Rosa Pomar Avatar
    Rosa Pomar

    Hi Francesca,

    Yes, most Portuguese women (me included) still knit with the yarn around their neck or tensioned trough a pin on their chest.

  5. Zelia Avatar

    The cool things you teach us:)

  6. sapatinhos de verniz Avatar

    o trabalho ficou interessantissimo!!!

    lindo, mesmo!!!

  7. Joana Rosa Bragança Avatar

    Fica lindo!

    Nem me atrevo a tentar, parece muito difícil para mim…*

    :)

  8. ana margarida Avatar

    Não sabia que o fio ao pescoço era característica singular de algum canto do globo, sempre pensei que cada um fazia como lhe dava mais jeito.

  9. Sandra Avatar

    Muito bom ler isto agora. No fim de semana passado decidi iniciar-me no mundo do jacquard. Comecei por me baralhar toda com as duas cores no pescoço, até que instintivamente decidi colocar uma das cores num alfinete.

    Vou ter de agora perceber qual é essa técnica portuguesa de vir um fio de cada lado.

  10. Rita Avatar
    Rita

    Que bonito!

  11. Susana Avatar

    A amostra está linda! E o post maravilhoso!

    Obrigada :)

    Há dias vi um documentario (curiosamente) sobre a Turquia, em que entrevistaram uma senhora kurda (sul da Turquia) e ela fazia tricot de pé enquanto falava mas não mostrava a cara pois tinha medo de ser maltratada pelo governo turco.

  12. Ana Maria Silva Avatar
    Ana Maria Silva

    Para quem saiba tricotar de ambos os metodos (à  inglesa e à  portuguesa)que é o meu caso, uma boa dica é trabalhar com um fio ao pescoço e outro na mão. Os fios nao se misturam tanto.

    A tua amostra ficou linda. Bom trabalho

    Ana Maria Silva

  13. marta Avatar
    marta

    Daí admiração quando tricotava, por exemplo, no comboio, lá fora. As pessoas perguntavam porque é que eu usava o fio à  volta do pescoço e eu sem fazer ideia, porque aprendi assim com a minha mãe, pensava que era universal! Quando uma amiga se riu de mim eu considerei mesmo praticar sem o fio ao pescoço!

    Em relação ao teu novo livro das botinhas turcas, lembrei-me logo das que a mãe de um amigo da Bósnia (com grande influência turca) faz à s catadupas. Tive a sorte de receber dois pares, umas tem um padrão tradicional, parecido com os das tuas fotos, as últimas têm umas joaninhas:

    http://www.flickr.com/photos/quackr/3309155744/

  14. Juliana Avatar
    Juliana

    Olá Rosa

    Minha mãe que vem da Ilha da madeira tricota com os fios ao pescoço, como disse a Ana, no Brasil várias pessoas tricotam dessa maneira, achei muito interessante saber que é um jeito tradicional português tricotar assim.

    Adoro os seus textos e seus trabalhos com eles sempre aprendo algo novo.

    Um abraço

  15. maria soares Avatar
    maria soares

    para as mais terra a terra recomendo o pequeno catalogo de tricot da cruz vermelha…..

    http://www.antiquepatterns.dreamhosters.com/ARCknitting.pdf

    a minha avó foi enfermeira voluntaria em londres durante os bombardeamentos da segunda guerra.

    aqui vai um arquivo que vale mesmo a pena guardar.

    http://www.antiquepatternlibrary.org/completelist.htm

    comecei só agora, sou mesmo mesmo muito trenga, mas a coisa vai lá. um abraço para todos.

  16. eva lima Avatar

    Gosto muito de fazer jacqard e sempre fiz ao pescoço mas com os fios virados para o mesmo lado. Não percebi como é que fizeste, vou experimentar.

  17. batixa Avatar

    O livro é lindo!!!

    Também aprendi a fazer tricot com o fio ao pescoço, mas tive de deixar de o fazer pois ficava cheia de dores de costas.

  18. […] das primeiras experiências bem sucedidas a tricotar com dois fios, já há mais de um ano, e de ler dois livros sobre o […]

  19. […] criança, que usei até à  exaustão como pantufas, e há uns anos, quando comecei a fazer meias, fascinaram-me as técnicas e padrões usados nesta região. É interessante ver como recentemente passou a ser […]

  20. […] de malhas tradicionais de várias partes do mundo. Por aqui têm aparecido alguns, como este ou este, mas nos próximos tempos vou mostrar mais alguns dos meus preferidos. O de hoje acaba de chegar. […]

  21. […] esticar, umas longas perneiras inspiradas por umas meias turcas antigas reproduzidas num dos meus livros de estimação. Em Beiroa, claro. Pormenores no […]

  22. Glauce Avatar
    Glauce

    Eu também tricoto com o fio no pescoço. Sabia que esta forma e comum no Brasil e em Portugal. Talvez também o seja em Espanha.

  23. […] saber que tricotar com o fio ao pescoço é prática corrente na Grécia e na Turquia (eu só sabia que já tinha sido). No seu post percebe-se que tricota as malhas à continental e confirmou-me que prefere tricotar […]

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