Sair de Lisboa Domingo de manhã rumo ao Fundão, para a meio da tarde irmos ao encontro dos pastores com quem há dois anos subi à serra. Fomos vê-los preparar os últimos bodes e cabras para a romaria dos animais em honra de São João, na Folgosa da Madalena, porque este ano o rebanho foi a rigor.
Para segurarem firmemente uma fileira de borlas (ou pêras) gigantes, os cornos têm de ser furados. O processo é rápido e indolor, mas segurar um bode vigoroso e fazer-lhe quatro pares de furos simétricos com um berbequim não é para qualquer um. Read more →
covilhã
Emquanto aos pannos da Covilhã, já veem elles celebrados em dois versos de Gil Vicente na sua Tragicomedia pastoril da Serra da Estrella:
E Covilham muitos pannos
Finos que se fazem lá.
Sousa Viterbo, Francisco Marques de, 1845-1910
Artes industriaes e industrias portuguezas; industrias textis e congéneres. Coimbra, Impr. de Universidade, 1904.
Uns dias passados na Covilhã, entre a universidade, o museu e as fábricas, onde todos têm a indústria no sangue dos pais e dos avós e se vive em socalcos ligados por pontes e elevadores. Paredes meias com fábricas gigantes abandonadas, sob as quais se descobrem outras ainda mais antigas (saÃdas das imagens da Enciclopédia), pode-se estudar para ser artesão têxtil ou operar um contÃnuo de penteação. Quem acha que o paÃs é pequeno não o conhece. Read more →
querer fiar
O que leva seis mulheres urbanas a virem à Retrosaria num Sábado de manhã para aprender a ir do velo de ovelha a um novelinho de lã? É um sinal dos tempos, de Mongo como se diz aqui, da makers revolution como se diz por aÃ? É mesmo uma maneira nova de olhar para as coisas que se afirma devagarinho. Mas agora falta que as netas das avós que ainda sabem fiar também queiram aprender…
diário de uma camisola
Com os muitos quilómetros feitos junto ao Douro na semana que passou a camisola foi crescendo. Os cálculos do Raglanify não foram exactos quanto ao momento em que devia deixar de fazer aumentos para as mangas (julgo que porque as malhas trabalhadas com este fio ficam invulgarmente largas proporcionalmente à altura), mas a vantagem deste método é que a camisola pode ser experimentada à medida que é feita. Entretanto tenho fiado e sonhado com um tear.
Este blog fez doze anos há poucos dias. Doze anos depois continua a ser-me precioso, imprescindÃvel. Por muito que os novos social media dispersem as leituras, vivam no instantâneo e nas frases curtas, é aqui que continuo a sentir-me melhor. É quase como se se completasse um cÃrculo e o blog voltasse a ser tranquilo e discreto como no inÃcio. E há muitas leituras lentas que continuo a fazer. Aqui ficam uma, duas, três (e desta terceira deverá haver em breve novidades na Retrosaria).
a história do rei sardão
Uns dias passados com a MPAGDP no Douro Litoral a ouvir histórias e cantigas. Em Areja, onde dantes se vivia um rio cheio de peixe, barcos e bambosinos, ouvimos a Sra. Maria FaÃsca a contar a história do Rei Sardão, uma espécie de Melusina ao contrário.
diário de uma camisola
Depois de mais um workshop de mini-camisolas na Retrosaria, a minha camisola feita desde o velo já está nas agulhas. E hoje tenho uma viagem de 3 horas e meia pela frente para a fazer crescer.
fiar em santa maria
Dom Afomso etc. A quantos esta carta virem fazemos saber, q o Ifante Dom Henrique meu muito prezado e amado tio nos enviou dizer q ell mandara lançar ovelhas nas sete ilhas dos Açores, e q se nos aprouvese que as madaria pobrar. (…)
Carta régia de D. Afonso V dando licença ao Infante D. Henrique para povoar as sete ilhas dos Açores. 1449 (fonte).
Flashback de Abril: uma tarde passada na freguesia de Santo EspÃrito, na ilha de Santa Maria, com um grupo de mulheres de cuja vida a lã fez parte durante muitos anos e que mantem bem vivos os gestos do seu trabalho (até aos meados dos anos 70 a produção caseira de camisolas de lã fiada à mão era um complemento importante do orçamento de muitas famÃlias marienses). Das ovelhas que por lá se criaram desde o século XV ainda sei pouco. Agora abundam as Romney Marsh e Suffolk, introduzidas (dizem os criadores) com apoio do Estado em detrimento das raças autóctones (?!), entretanto desaparecidas (?!). Mas mesmo a lã longa e suave das Romney acaba muitas vezes no lixo, aqui como no Faial e por todo o arquipélago, nos locais em que as ovelhas ainda não deram de vez lugar à s omnipresentes vacas.
Em Santa Maria fia-se como no Pico, em fusos leves de tipo 1 que se apoiavam no chão (tosquiava-se e fiava-se sentado no chão) e se pousam agora numa cadeira. Neste pequeno vÃdeo podem ver-se as operações de cardar, fiar e torcer, num dia em que a névoa açoreana se mostrava em todo o seu esplendor:
beiroa 2013
Entre viagens e histórias por contar chegaram à Retrosaria as sete novas cores da Beiroa, que hão-de brilhar no próximo inverno.
A propósito do livro dei recentemente duas entrevistas na rádio: a primeira no programa Pessoal e TransmissÃvel, de Carlos Vaz Marques (TSF) e a segunda no A Força das Coisas, de LuÃs Caetano (Antena 2). Para ouvir basta seguir os links.
o livro em viagem
Duas imagens do Redondo, onde estive no inÃcio do mês a apresentar as Malhas Portuguesas a quem as faz. Hoje é a vez de Serpa.
diário de uma camisola
Tenho fiado aos poucos o velo de Merino preto do Alentejo. Disse que ia fazer uma camisola e já estou perto. Dos primeiros novelos, de lã castanha e branca misturadas de várias maneiras, nasceu um barrete. Entretanto fiei mais cinco, com o fio mais fino mas ainda irregular. Esta tarde fiz uma amostra para perceber como se porta o fio depois de trabalhado. Acho que vou voltar a seguir o Raglanify para a camisola mas como talvez opte antes por um casaco quis ver se o fio aguentava uns steeks. E aguentou muito bem.
Notas de trabalho:
Agulhas: 4.5mm
Densidade (antes da lavagem): 17.5 malhas x 25 carreiras = 10cm Read more →